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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O Antigo Testamento

Os Dez Mandamentos

Foi no seio do povo hebreu que nasceu a Bíblia (A.T.) Os textos bíblicos do Antigo Testamento começaram a ser escritos a partir do século IX a. C. No decorrer dos séculos foi-se formando a biblioteca sagrada de Israel, sem que os judeus se preocupassem com a catalogação das mesmas. E o último livro a ser escrito foi Sabedoria (50 aC). Os autores sagrados (os hagiógrafos) viveram em lugares e ambientes muito diversos: cada um imprime na sua obra traços característicos de sua personalidade. Mas como eles escreveram sob a inspiração do Espírito Santo, é Deus o Autor principal de toda a Bíblia.



Só depois do Exílio (538 aC) é que se escreveu definitivamente o Antigo Testamento. Nessa época é que o Antigo Testamento adquiriu toda a sua autoridade. Ele se tornou o eixo de um sistema social e religioso - o judaísmo. O Antigo Testamento era como a carteira de identidade do povo de Israel.

Os judeus foram ajuntando no decorrer de sua história e coleção dos livros do Antigo Testamento e dividiram-na em 3 partes:

A Lei Torá - contendo os 5 livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Formam o núcleo fundamental da Bíblia.
Os Profetas - os judeus compreendiam por esse título os livros que hoje são denominados proféticos e históricos.
Os Escritos - os judeus designavam por este nome os livros: Salmos, Provérbios, Jó, Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras e Neemias, Crônicas.
No segundo século antes da nossa era, esta coleção já estava terminada (séc. II aC).

Nessa época (entre 250 e 100aC), os judeus estavam, em parte, dispersos pelo mundo afora (diáspora - emigração e dispersão dos judeus para outros países). Quando os judeus começaram a emigrar para outros países, levaram consigo a Bíblia. Se fixou, um grupo de judeus, em Alexandria (Egito), onde se falava grego e lá constituíram uma colônia. Adotaram a língua grega e tiveram a necessidade de traduzir a Bíblia do hebraico para o grego. Conta a Tradição que o rei Ptolomeu II (Alexandria) querendo possuir na sua biblioteca um exemplar grego dos livros sagrados dos judeus, pediu ao sumo sacerdote Eleázaro de Jerusalém os tradutores. Eleázaro enviou seis sábios de cada uma das doze tribos de Israel (72 sábios) para Alexandria. Estes ficaram em 72 cubículos individuais e no final os 72 textos gregos do Antigo Testamento estavam idênticos. Consideraram um milagre! Ficou sendo conhecida como a TRADUÇÃO DOS SETENTA ou tradução Alexandrina.

Alguns escritos recentes lhe foram acrescentados sem que os judeus de Jerusalém os reconhecessem como inspirados: Tobias e Judite, Daniel e Ester (parte), Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, Jeremias. A Igreja Cristã admitiu-os como inspirados da mesma forma que os outros livros. Desse modo a Bíblia grega (tradução dos setenta hebraico-grego) tem 7 livros a mais do que a Bíblia hebraica (original).

Os judeus de Jerusalém não reconheceram os 7 livros como verdadeiros porque eles afirmam que:
- Só podem ser escritos dentro de Israel
- Só podem ser escritos em hebraico
- Só podem ser escritos antes de Esdras

Obs: No ano 100 dC os rabinos se reuniram no sínodo de Jâmnia para estipular esses critérios.

Foi a tradução apostólica que levou a Igreja a decidir quais os escritos que deviam ser contados na lista dos livros sagrados. Esta lista é chamada de: Cânon das Escrituras.
Cânon - Karon (grego) = Catálogo
Canônico - Livro catalogado
- Os livros escritos dentro do seio da comunidade dos judeus, são chamados: PROTOCANÔNICOS (Catalogados em primeiro lugar)
- Os sete livros acrescentados em grego são chamados: DEUTOROCANÔNICOS (Catalogados em segundo lugar).
O Cânon Católico compreende 46 livros do Antigo Testamento.

A Comunidade é um Dom de Deus


Nossa Senhora

A Comunidade é um Dom de Deus. Não existe vida comunitária se não existirem corações orantes, se não existirem homens e mulheres de vida de oração. Podemos buscar os subsídios para falar de oração na própria vida de Jesus.


Jesus continuamente tirava largos tempos da sua vida para estar diante do Pai, para escutar a vontade do Pai, para estar na companhia do Pai. Quando examinamos o Evangelho e, principalmente, o Evangelho de São Lucas, nós vamos ver uma inversão da imagem que geralmente nós temos de Jesus. A imagem que geralmente nós temos de Jesus é como aquele que age, que faz. Porém, no Evangelho de Lucas nós vamos ver que Jesus continuamente está buscando o Pai em oração, e continuamente está mergulhado na oração é que realiza a vontade do Pai, e faz muitas coisas. Jesus ora, e por isso, faz. Ele busca continuamente a vontade do Pai em oração, e por isto põe em prática a vontade do Pai.

Quando fazemos uma leitura atenta do Evangelho, percebemos mais um Jesus contemplativo, um Jesus orante, que justamente porque contemplava e orava realizava a vontade do Pai e fazia muitas coisas, do que um Jesus que fazia muitas coisas e também rezava.

Se nós formos fazer uma leitura atenta do Evangelho, vamos ver que Jesus dava primazia à oração. Grande parte do seu tempo, era dedicado ao encontro com o Pai e, por causa disso, transbordava a sua vida, e que porque orava, fazia muitas coisas e realizava a vontade do Pai no meio dos homens e no mundo. Devemos aprender com Jesus a ser homens e mulheres orantes, e aprender a rezar com Jesus.

No Evangelho de Lucas 3,21-22, temos que: "Ora, ao ser batizado todo o povo. Jesus também ele rezava. Então, o céu se abriu, o Espírito Santo desceu sobre Ele sob uma aparência corporal como uma pomba e uma voz veio do céu: "Tu és o Meu Filho, eu hoje te gerei". Essa passagem abre a vida pública de Jesus, marca o início da sua missão. Jesus vai em busca de João Batista, porque " É necessário que se cumpram as Escrituras".

Quando ouvimos falar do Batismo de Jesus geralmente imaginamos João Batista derramando a água sobre a cabeça de Jesus para em seguida o Espírito Santo vir do céu, como se João Batista atraísse esta manifestação na vida de Jesus. Mas o ato que abre o céu é a oração de Jesus. Por esta razão é que o Espírito Santo vem sobre Ele e a voz do Pai: " Este é meu filho amado, sobre ele, eu coloco toda a minha afeição".

O Espírito Santo só vem sobre nós e a voz do Pai ressoa em nosso coração pela oração. É a oração de Jesus que atrai o Espírito Santo e abre os nossos ouvidos para ouvir a voz do Pai. É o próprio Jesus que nos ensina! Só orando nele, por Ele e com Ele que podemos atrair o Espírito Santo.

Não pode haver vida cristã sem o Espírito Santo, não podemos ser transformados ou conformados a Cristo sem o Espírito. O Espírito Santo não atuará em sua vida se não for por meio da oração, ela nos faz usufruir do poder que existe nos Sacramentos.

Os Sacramentos continuam eficazes por si mesmos, mas não são frutuosos se não usufruímos da graça que nós recebemos. É a oração que nos faz usufruir das graças da abertura do céu. É a oração que faz com que nós sejamos cheios do Espírito Santo. Jesus antes de começar a sua missão, antes de fazer qualquer coisa, orou, suplicou, foi para diante do Pai. Ao orar, o céu se abriu e foi ungido pelo Espírito Santo para realizar a Sua missão. Também nós, não seremos nada, não faremos nada, se isso tudo não for gerado dentro de nós pela oração. Por isso, nossa ação será infrutífera, nossa vida não será transformada e as graças que nós recebemos pelos sacramentos não serão frutuosas em nós se não rogarmos, se não sedimentarmos pela vida de oração, não podemos ser verdadeiramente cristãos.

Nós não seremos ungidos para pregar, para agir, para viver o nosso dia a dia, porque nós não ouviremos e nem faremos a vontade do Pai. Por isso, Jesus nos dá esse grande e primeiro ensino.

Se o céu está fechado na sua vida irmão, é porque você não está orando, não está se colocando de joelhos diariamente diante de Deus, ainda não deixou que Deus fizesse de você um homem ou uma mulher de oração. A oração atrai o Espírito Santo! Se você não se sente cheio e pleno do Espírito, se você não percebe que Ele é o condutor da sua vida, é porque falta a oração. A oração atrai o Espírito Santo, faz com que Ele venha nos envolver e nos conduzir, nos dirigindo e nos fazendo viver a vida no Espírito. Se você não consegue escutar a vontade do Pai para a sua vida, se você não sabe discerni-la, é porque falta a oração. É pela oração que a voz de Deus se manifesta na nossa vida.

Eu convido agora você a fechar os olhos por um momento e silenciar diante da presença de Deus, diante do Espírito Santo que habita no seu coração, pedindo que venha ser a força do Alto que retira você de si mesmo e lhe remete para Deus e para os seus irmãos. Foi para isso que você foi criado: para o outro. Peça ao Espírito Santo que venha sobre você.

Ele é o filho de Deus, e, mesmo assim, precisou orar. Dedicou um largo tempo à oração. Talvez você possa até questionar: “Eu não preciso rezar, pois a minha vida já é uma vida de oração”. Desculpe! Tal atitude pode ser considerada como hipocrisia e mentira. Desculpe, mas essa é a única verdade! A sua vida precisa ser uma vida de oração. Sua vida só pode ser uma vida de oração se você tiver oração dentro da sua vida, senão, ela não será, verdadeiramente, uma vida de oração. Ainda assim, você pode levantar a questão: “Mas eu já sou ocupado demais”. Ninguém é ocupado demais para não dar tempo para Deus.

Madre Teresa de Calcutá e suas irmãzinhas tinham duas horas de oração diária. Além disso, precisavam cuidar de muitos doentes. Tinham milhares e milhares de pessoas moribundas, das mais pobres, além de hospitais enormes onde não havia nenhum funcionário. Elas cuidavam de tudo como voluntárias. Certa vez, chamaram a Madre e disseram: “Madre, o trabalho é muito, não está dando para a gente ter duas horas de oração”. Madre Teresa olhou para elas e disse: “O trabalho está demais. Não vamos rezar só duas horas não, vamos rezar quatro. Porque se não estão dando conta do trabalho, é porque vocês estão rezando pouco. Porque, quando oramos verdadeiramente, a graça de Deus faz multiplicar a nossa ação. Realizamos muito mais, porque realizamos pelo poder de Deus”. A partir daquele tempo, as irmãzinhas não rezaram mais só duas horas, mas rezaram quatro horas por dia e tudo deu tranqüilamente. Elas se tornaram muito mais capazes.

Podemos examinar ainda outra passagem: Lc 4, 1-2.
“Jesus, repleto do Espírito Santo, voltou do Jordão e estava no deserto conduzido pelo Espírito, durante quarenta dias, e era tentado pelo diabo”.

Alguém indo para o deserto ou subindo a montanha, significa alguém que procura a oração. Na Sagrada Escritura, o deserto é um lugar de encontro com Deus, assim como a montanha, indicam locais privilegiados para falar do orante que deseja Deus, são locais de oração.

Para atrairmos o Espírito Santo precisamos de oração. A oração atrai o Espírito Santo e o Ele conduz à oração. O Espírito Santo leva Jesus para o deserto, leva-o para a oração. É incompreensível que alguém possa considerar-se conduzido pelo Espírito se considera desnecessário rezar. O Espírito sempre leva a oração!

Quando estamos repletos do Espírito Santo, Ele nos conduz a oração e, conseqüentemente, a vida de oração.
Conduzido ao deserto, Jesus é tentado pelo diabo: “(…) Conduzido pelo Espírito, durante quarenta dias, e era tentado pelo Diabo”.

Quando nós nos decidimos pela oração, decidimos por encontrarmo-nos com Deus, e sermos homens e mulheres de oração. No entanto, sempre encontramos no meio do caminho o diabo, porque, ele é aquele que se opõe ao nosso encontro com Deus. Ele inventa e põe questionamentos na nossa cabeça para que nós não nos dediquemos a oração. Santa Teresa D’Ávila, doutora da Igreja, dizia uma coisa muito importante: “O homem e a mulher que vivem de oração já venceram o diabo”.

Se pudesse, subia no mais alto monte do mundo, a mais alta montanha e gritava aos homens: “Orem! Orem!” O inferno inteiro se mobiliza quando ele vê um homem ou uma mulher que se decide a ser um homem ou uma mulher de oração com o intento de demovê-lo dessa decisão, pois o inferno inteiro sabe que aquele que ora já está perdido para ele.

Mas, porque é tão difícil ter uma vida de oração? O mundo inteiro se levanta para que você não seja um homem ou uma mulher de oração. A oração é um combate, como o próprio Jesus conduzido pelo Espírito foi para o deserto e o demônio se colocou lá para combater contra ele. Por isso, a oração é um combate, mas pelo poder do Espírito somos mais do que vencedores. O demônio vai combater nos pontos mais frágeis do homem que deseja rezar, com raciocínios, idéias e justificativas.
O demônio tentou Jesus por meio de Palavras do próprio Deus. Ele utilizou palavras das próprias Escrituras e as deformou. Ele usa a Palavra de Deus, mas não da forma como Deus quer, as usa de uma maneira deformada: “Se tu és o Filho de Deus, ordena que está pedra se transforme em pão. Jesus lhe respondeu: ‘está escrito, não só de pão viverá o homem’”. Na última tentação ele diz: “Se és filho de Deus, joga-te daqui para baixo; pois está escrito: Ele dará a teu respeito ordem a seus anjos de te guardarem, e ainda: eles te carregarão nas mãos para que não contundas o pé em alguma pedra. Jesus lhe respondeu: ‘está escrito: não porás à prova o Senhor teu Deus’”. Desde a primeira tentação, o demônio usa e deforma a própria palavra de Deus e, muitas vezes, é o que vai acontecer na nossa vida.

Nós devemos enfrentar a tentação orando mais intensamente e usando o poder da própria Palavra de Deus aplicada no seu sentido correto, como o próprio Jesus o fez com o maligno. Assim nós venceremos a tentação.

A oração é um caminho de alto conhecimento. Jesus, no deserto, vai mostrar os grandes pecados que afligem a vida do homem: o poder, o possuir e o prazer. A oração vai nos mostrar o que está desconforme na nossa vida e nos dará a força de vencer, por isso, também muitos de nós fugimos da oração.

Quanto mais nós oramos, mais permitimos que a luz de Deus brilhe sobre nós. A luz de Deus, brilhando sobre nós, faz aparecer as nossas manchas; nossas feridas; nossos pecados. Não suportamos, muitas vezes, olhar para esta realidade e preferimos não rezar. Preferimos não orar para não nos conhecermos e, desta forma, para não deixar Deus mexer em nossa vida.

Mas quando deixamos Deus mexer até aonde não queremos que Ele mexa, Ele nos transforma e nos santifica. Sem oração pensamos que está tudo bem, mas, na realidade, está tudo mal.
Santa Teresa, que é mestra na vida de oração, diz assim: “Se você pegar um copo de vidro, chegar num rio e enchê-lo com a água, se este for um lugar que não tenha a luz, ao olhar para água do copo poderá dizer: “Esta água está boa, ela está limpa”. Mas, se você pegar esse mesmo copo e colocá-lo diante da luz do sol, vai perceber que aquela água está cheia de impurezas.

Se Tereza vivesse no nosso tempo, diria: “Se você pegar esta água e colocá-la na luz de um microscópio, vai assustar-se ao ver quantas impurezas tem esta água”. Assim é nossa vida que, longe de oração, é como aquela água: nas trevas parece estar limpa, mas quando bebe vai se gerando vermes que destroem todo o nosso ser. Quando, pela oração, colocamos nossa vida à luz de Deus vamos percebendo as impurezas da nossa vida e assim teremos condições de sermos sadios e felizes. A oração nos leva também por esse caminho, santo e único caminho de auto conhecimento e de transformação pela graça de Deus.

Tomemos dois textos do Evangelho de Lucas que nos ensinam um pouco mais da vida de oração de Jesus:
Lucas 4, 42-44: “Quando clareou o dia, ele saiu e foi para um lugar deserto. As multidões o procuravam; Depois, tendo-o encontrado, queriam retê-lo, para que não se afastasse deles. Mas ele lhes disse: ‘às outras cidades também é preciso eu anuncie a Boa Nova do Reinado de Deus, pois é para isso que eu fui enviado’. E ele pregava nas sinagogas da Judeia”.

Lucas 5, 15-16: “Falava-se de Jesus cada vez mais, e grandes multidões se reuniram para ouvi-lo e para se fazerem curar de suas doenças. E Ele se retirava aos lugares desertos e rezava”.
Essas duas passagens são significativas para nós. Jesus é aquele que ora e, por conseqüência, faz. Jesus não é aquele que não tinha tempo para a oração, mas a oração tinha a primazia em sua vida. A primeira coisa que Jesus fazia era ir para um lugar deserto, depois, Ele realizava sua missão. A segunda passagem mostra o povo afluindo para Jesus e as imensas atividades pastorais que Ele precisava realizar. Sua fama se estendendo por todas as regiões, as graves necessidades do povo doente e necessitado de libertação. Jesus curava e libertava, mas em um determinado momento despedia o povo, afim de retirar-se para orar.

Vemos duas coisas inversas nessas passagens: a primeira é Jesus orando e depois dedicando-se intensamente ao povo. Todos queriam que ele permanecesse mais, porém como ele orava, sabia qual era a vontade do Pai e não se deixava engolfar pelas atividades. Ele não era levado pelas circunstâncias, era levado e conduzido pelo Espírito de Deus. Porque orava, chegava a despedir o povo mesmo no meio de clamores. Não temos desculpas. Mesmo em meio às necessidade pastorais, é necessário reservar à oração uma primazia.

Exatamente por isso, temos motivo para orar. Não deve ser por causa das muitas responsabilidades que a oração deve ficar sem tempo.
Pobres daqueles sobre os quais você tem responsabilidade se não lhe sobra tempo para oração. Pobre dos integrantes das comunidades que tem como pastores-coordenadores, homens ou mulheres, que são tão dedicados a eles, mas não se dedicam a Deus. Não é Deus que está sendo glorificado. O próprio filho de Deus, cuja missão era salvação de toda a humanidade, antes de qualquer coisa orava e chegava a interromper, a despedir multidões para ir em busca do Pai, da presença do Pai.

Tomemos o texto de Lucas 6, 12-13:
“Naqueles dias, Jesus foi a montanha para orar e passou a noite orando a Deus, depois, quando amanheceu, chamou seus discípulos e escolheu doze deles, aos quais deu o nome de apóstolos”.
Devemos notar nesta passagem que a oração de Jesus foi intensa: “passou a noite”. Jesus nada fazia que não tivesse sido antes ruminando pela oração diante do Pai. Tudo o que ele fazia, passava antes pelo coração do Pai. Nós não podemos tomar as nossas decisões pessoais, pastorais e comunitárias sem repassá-las diante de Deus pela oração. Corremos o perigo de realizar a nossa obra, o nosso projeto e o nosso plano, esquecendo que o projeto é de Deus, a obra é de Deus, e porque é de Deus, temos que repassá-la em oração. A nossa vida é de Deus, a obra é de Deus, a comunidade é de Deus, o grupo é de Deus e, por isso, as decisões que nós tomamos, temos que toma-las segundo a sua orientação, ao invés de simplesmente confiarmos na nossa experiência, na nossa capacidade.

Lc 9, 28-33: “Ora, cerca de oito dias depois dessas palavras, Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu à montanha para rezar. Enquanto rezava, o aspecto do seu rosto mudou a sua roupa se tornou de uma brancura fulgurante. E eis que dois homens conversavam com Ele; eram Moisés e Elias; aparecendo na glória, falavam da partida de Jesus que ia se realizar em Jerusalém. Pedro e os seus companheiros estavam acabrunhados de sono; mas, acordando, viram a glória de Jesus e os dois homens que com ele estavam. Ora, como estes se apartassem de Jesus, Pedro lhe disse: ‘Mestre, é bom que estejamos aqui; ergamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés, outra para Elias’. Ele não sabia o que dizia”.

Jesus foi para a montanha orar e, orando, foi transfigurado; a glória de Deus brilhou nele. Temos um grande erro na nossa vida de oração que, muitas vezes, faz desistirmos dela. Buscamos a vida de oração, simplesmente, como um meio para agradar nossas sensibilidades, quando nada sentimos às vezes nos frustramos e, não queremos mais rezar.

Devemos perseverar na oração, sentindo ou não sentindo, gostando ou não gostando, com gozo ou sem gozo, porque ainda que importante, isso não é o mais importante. O mais importante é a visita de Deus, que ocorre no nosso coração e na nossa alma quando oramos. Uma transfiguração invisível ocorre dentro de nós quando rezamos, vamos nos transfigurando em Cristo. Podemos até ter, se Ele quiser, grandes surpresas na sua vida de oração, onde os seus sentimentos também gozam dessa presença de Deus, mas isso não é o mais importante, é importante, mas não o mais. O mais importante é a obra que Deus deseja realizar em nós, com sentimento ou sem sentimento.

Quando rezamos nós somos curados e libertados, a glória de Deus se manifesta em nós. E nunca caiamos na tentação de sair da oração achando que nada aconteceu. Sempre que orarmos, em Espírito e em verdade, sairemos da oração um outro homem, uma outra mulher. Deus terá operado nas nossas vidas.

Lc 10,38-42:
“Estando eles a caminho, Jesus entrou em uma aldeia, e uma mulher chamada Marta o recebeu em sua casa. Tinha ela uma irmã chamada Maria, que, tendo se assentado aos pés do Senhor, escutava a sua Palavra. Marta se afobava num serviço complicado. Ela se aproximou e disse: ‘Senhor, não te importa que a minha irmã me tenha deixado sozinha a fazer todo o serviço? Dize-lhe, pois, que me ajude’. O Senhor lhe respondeu: ‘Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas. Uma só é necessária, foi Maria que escolheu a melhor parte: ela não lhe será tirada’.

Muitas pessoas colocam esse Evangelho como uma oposição entre a contemplação e a ação, não deve ser assim. Jesus critica Marta, mas sua crítica não era porque ela estava preocupada em servi-lo. Marta está agoniada e Maria está aos pés de Jesus. Marta usa a expressão “dize”, está mandando. Ela usa o imperativo: “dize a Maria que venha me ajudar”. Neste ponto, Jesus faz a crítica fundamental a Marta: “Marta, tu te inquietas com muitas coisas, uma só é necessária e Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada”. A crítica fundamental que Jesus faz a Marta não é porque ela trabalha, é porque dá a primazia ao trabalho. Maria, no entanto, entendeu que essa primazia é da oração.

Jesus mostra nessa passagem a primazia de estar com Deus para tudo fazer por Deus. Nós podemos fazer muitas coisas para Deus, isto é bom e agradável, mas se na nossa vida a primazia não for estar com Deus para depois fazer por ele. Quando nós não damos a nossa presença, o nosso ser, para Deus todo trabalho perde o sentido. Para o discípulo de Jesus a oração é uma primazia, ela vem à frente, e depois, consequentemente, vem o trabalho. É preciso realizar tudo em nome de Jesus, é necessário fazer coisas, se Marta não fizesse o almoço todos passariam fome, mas a primazia é receber o Mestre, é sentar-se aos seus pés e ouvir a sua voz, depois fazer o que ele manda. Esta é a primazia, não é fazer desesperadamente as coisas para ele e por ele sem nem saber o que ele quer.

Lc 11,1: mais uma vez vemos Jesus orando: “Um dia, ele estava num lugar em oração. Quando terminou, um dos discípulos lhe disse: ‘Senhor, ensina-nos a rezar, como João ensinou a seus discípulos’”.

O maior mestre de oração é o próprio Jesus. Quem deseja aprender a orar, deve fazer como os discípulos: voltar-se para Jesus e dizer-lhe: “Senhor, ensina-me a orar”. O mais magnífico, é que isto já é oração. Se dissermos: “eu não rezo porque não sei rezar”, façamos dessas palavras a nossa oração. Fiquemos o tempo que pudermos pedindo: “Senhor, ensina-me a orar”. Ele próprio ensinará a orar os que assim suplicarem. Jesus, pelo seu Espírito, nos ensina a orar. Rezando é que a gente aprende a rezar. Ler toda teologia mística sobre a oração pode até ajudar, mas não é suficiente. Se desejamos aprender a orar, busquemos Jesus e peçamos que Ele nos ensine, é assim que se aprende a orar.

Se encontrar-mos um grupo que não reza, devemos questionar qual a vida de oração de seu coordenador-pastor Porque quando este reza as pessoas se aproximam e pedem que lhes ensine a orar. Pedem porque podem ver Jesus orando nele. O cooedenador-pastor pode dizer para elas: “você quer aprender a rezar, então, diga: Jesus, ensina-me a rezar”.

Aqueles que estão ao seu redor de um homem ou uma mulher de oração, serão também atraídos por Jesus que reza nele ou nela. Verão a beleza da oração de Jesus e se sentirão atraídos, aprendendo a rezar.

Mas qual é o conteúdo da oração de Jesus? O conteúdo da oração de Jesus podemos encontrar em Lc 10, 21-22: “Nessa hora, Jesus exultou sob a ação do Espírito Santo e disse: ‘eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, por teres ocultado isso aos sábios e aos inteligentes e por tê-lo revelado aos pequeninos. Sim, Pai, foi assim que tu dispusestes em tua benevolência. Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece quem é o Filho a não ser o Pai, nem quem é o Pai a não ser o Filho e aquele a quem o Filho aprouver revelá-lo”.

“Eu te louvo, Pai-Abba, porque sou teu filho e tu revelas isso aos corações que são simples e pequeninos”. Eis o primeiro conteúdo da oração de Jesus. O Espírito faz com que exulte de alegria no Pai. A oração de Jesus é sempre no Espírito. Chama-o Pai porque ele é o Filho, só os corações simples podem descobrir a beleza de ser Filho de Deus. A primeira dimensão do conteúdo da oração de Jesus é a alegria de ser filho de Deus, essa também deve ser a primeira dimensão do conteúdo da nossa oração.

A grande descoberta do Abba, do Deus que é Pai. Abba quer dizer “papaizinho” em hebraico. Somos chamados a exultar de alegria porque Deus é nosso Pai, porque seu amor nos envolveu, porque o seu amor existe em nós, Ele nos criou, nos salvou, nos redimiu por amor. Porque somos filhos, temos confiança no nosso Pai, a nossa vida está em suas mãos. Eu confio nele, porque mesmo passando no vale de trevas, não vou temer, porque Ele é meu Pai. Eu louvo em todas as circunstâncias, em toda situação. Abba, Pai. Eis o primeiro fundamento, a primeira essência da nossa oração. Olhar para Deus, como Pai, e dizer bendito. Só ora um coração pequenino que descobriu a Deus como Pai, essa é a primeira revelação da oração.

O Espírito Santo convence o nosso coração do amor e da paternidade de Deus, por isso nosso coração exulta de alegria e de confiança. Confio em ti, Aba, Meu Pai. A nossa oração se quer ser como a de Jesus, deve está envolvida pelo louvor e por esse amor a Deus Pai. Em todas as circunstâncias contemplamos a beleza infinita do que é ser Filho do Pai. Não estamos abandonados, não precisamos viver na desconfiança nem no medo. A nossa oração não pode nem deve ser desesperada, mas de confiança total e absoluta, de abandono nas mãos do Pai. Oração feliz por Ter Deus como Pai. Essa é a primeira dimensão do conteúdo da oração de Jesus.
Mas há uma outra dimensão na oração de Jesus que está em Lc 22, 42-42: “Pai se quiseres afastar de mim esta taça...No entanto, não se faça a minha vontade, mas a tua! Então apareceu-lhe do céu um anjo que o fortificava”.

A primeira dimensão da oração de Jesus, que vimos acima, é a dimensão de júbilo: “ Eu sou filho, sou amado por ti, fui criado por ti, fui redimido pelo teu poder. Pai, eu sou feliz. Eu confio em ti, tudo tu me deste, sou teu, tudo o que eu tenho é teu, bendito, sou feliz porque sou filho”. A segunda dimensão, que deriva justamente da primeira, é a dimensão de oferta, de entrega de vida, de doar-se inteiramente ao Pai: “ Pai faça-se a tua vontade. Cumpra-se em mim a tua vontade. Faça-se em mim. Pai”.

De acordo com esta dimensão, devemos comprender que não oramos para mudar a vontade de Deus, mas para que Ele nos mude, nos adapte à sua vontade. Às vezes pensamos em rezar para mudar a vontade de Deus a nosso respeito, mas na realidade oramos para que nós mudemos, para que a graça de Deus nos mude e nos adapte à Sua vontade perfeita. Esta é a oração no Espírito, verdadeira fonte de vida e de felicidade: “Porque Deus é tão bom, porque Deus é meu Pai, eu confio tanto nele que a vontade dele é o melhor para minha vida, então, faça-se a tua vontade na minha vida, Pai, mesmo que essa vontade seja um cálice amargo, que tenha aparências de dor, mas por trás dela há amor, há vida, há felicidade. Então, faça-se em mim a tua vontade!

A oração não é para mudar Deus, mas para sermos transformados, para compreendermos a beleza da paternidade de Deus e termos uma confiança absoluta na sua santa vontade, seja ela qual for, mesmo quando ela se apresente como cruz, porque e só por meio dela virá a ressurreição.